Num
bar, numa esquina de alguma qualquer cidade, onde mulheres buscam
sexo e homens amor, Charles estava. Tomando um copo de leite com
vodca, rosnava os dentes a cada instante que a mulher ao lado lançava
um olhar. Nem loira, nem morena, ruiva. Uma ruiva com lábios grossos
de batom marrom glacé. Calça jeans, All Stars, cigarro entre os
grandes e brancos dentes. Estava sozinha aquela noite, coisa de se
estranhar. Os curtos cabelos ruivos caiam pelo rosto de Paula. Estava
desestimulada de viver, de tantas transas, de tantos pênis, nenhum
havia lhe tirado do poço da solidão. O orgasmo momentâneo era
mínimo para o espaço que havia em sua mente.
Por isso ela bebia.
A bebida lhe trazia felicidade momentânea. Era sua válvula de
escape. Paula gostava da sensação que o álcool lhe dava.
Escorregando boca adentro, e queimando no estômago, seguido de um
longo trago em seu cigarro. Suas veias se dilatavam quando o fluxo de
substância escorregava pelos órgãos de seu corpo. E Charles a
observava, seus olhos a devorando, sua boca já sentindo o gosto
salgado de seu corpo. No ápice de sua plenitude, não percebeu que
um homem a observava. Charles, cansado de ser pago por mulheres ricas
e velhas, que desejam ser estupradas por adolescentes. Queria sentir
o que é transar com o simples desejo de querer. Desejo esse que há
muito não sentia, o prazer se tornou monótono, assim como a vida de
Paula. Charles enfiando uma prata no bolso do garçom, pediu que este
entregasse um cigarro para a dona dos ruivos cabelos. A feição da
moça ao receber o cigarro foi feliz. Já estava a ponto de achar
graça de tudo.
O
turno do garçom estava por acabar, pensava em talvez se sentar e
tentar a sorte com a linda moça ruiva que desde cedo vem a olhar.
Paula começou a perceber que o garçom a olhava. Naquela noite
queria apenas sentir a tranquilidade da grande cidade e não as mãos
de um homem ou mulher em suas costas. Seria melhor levantar e ir
embora? Tirou a camiseta e mostrou os seios dizendo: “Esta minha
pele não vai encostar em nenhum de seus pelos, ela apenas sentirá a
poluição dos carros”
Ascendeu o cigarro ganhado e depois sem
tragar o lançou até o chão e pisou neste, até que nem resquício
de brasa existisse, assim como sua vontade de acordar de manhã.
Se
levantou, e começou a andar,
logo um outro garçom a parou. A
conta não havia sido paga. Vasculhou os bolsos e percebeu que estava
sem grana. Virou ao garçom e perguntou "O que você quer?"
Charles logo se propôs a ajudar, retirou um bolo de notas do bolso.
A moça abaixou a cabeça, com a conta
paga os dois saíram do bar. Constrangida pela situação, agradeceu
ao homem. Estava meio tonta, a bebida ferventava em seu estomago,
sentiu ânsia. Via os lábios do homem se moverem, mas não ouvia
nada Apenas assentia com a cabeça. De súbito, não via e nem ouvia
mais nada. Quando a visão voltou, mesmo turva notou que estava
dentro de uma pequena sala. Estava sem calcinha, deitada em um sofá
velho empoeirado. Atrás de sua peça de roupa íntima, se deparou
com o homem que havia pago sua conta. O homem estava dormindo?
Ficou
chocada ao perceber que não. A alma já havia deixado seu corpo, que
estava mole jogado no chão. O homem estava usando sua calcinha, e
estava de peruca loira. A palidez excessiva mostrava que o homem já
não respirava há tempo. Olhou o relógio, já eram 7 da manhã, o
boca com gozo amargo. A cara inchada mostrava que já haviam se
passado algumas horas desde que estava no bar. Então Paula resolveu
pegar sua maquiagem e usá-la no homem. Achou que como ele foi
solicito com ela, que ao menos ele fosse encontrado com uma boa
aparência. Se vestiu, o deixaria ali. Apenas mais um capitulo de sua
vida.
E do que adiantava viver todos esses capítulos se não
havia com quem partilhar. Paula se sentiu atraída pelo cadáver ao
chão,
sentou-se do seu lado, e o beijou. Um beijo não
correspondido, mas um dos mais sinceros que já teve. Resolveu
beijá-lo novamente... pegou os braços gélidos e os colocou em suas
costas. Deitou sobre o cadáver e por ali ficou.
Feliz. O frio do
corpo fez com que se arrepiasse. Tirou a calcinha do homem. A vontade
de não mais sentir um homem em sua pele, se foi. Após esfregou seus
órgãos genitais no corpo frio. Enquanto esta ali, feliz, o garçom
que não a desejava mais, se encontrava satisfeito do outro lado da
cidade. Saciado pelo corpo de Paula, e com a imagem de charles
morrendo por suas mãos. Morte rápida e indolor. Degolando-o com o
sutiã e passando HIV para ela. Que havia pegado de uma outra vitima,
já não sabia mais qual. :seu interesse era proliferar. Com um tufo
de cabelo de Paula fez um cigarro. fumou o ruivo cabelo, este tinha
um gosto diferenciado dos outros. Cabelos pretos tinham gosto de
ervilha. Os loiros tinham gosto de sabão encostado. Mas os ruivos
eram calmantes, pareciam cogumelos. Desde então suas vítimas
passaram a ser ruivas para sentir-se calmo.