quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

É ISSO

Ao pé dessa figueira
construímos nossos desejos e planos.
No cantar dos pássaros,
o tempo galopou e nos levou.
Edificamos nossas vidas
com pedras de quintal.
E de mãos dadas,
no suspiro do velho gato,
aguardamos as rugas.

VERMELHO

Este que queima,
dilacera o solo, a vontade, a grama no jardim.
Conduz a secura das folhas desta mangueira, das composições, da memória.
Seu intenso faz evaporar os sonhos, as águas deste corrigo, a alegria.
Ao íntimo violenta estas frutas, a pele e os seres que vagueiam nesta terra morta.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O SANGUE ENTRE MINHAS MÃOS II

Nestes corpos esfrio as ganas,
no podre alivio as tensões.
Incontrolável.
Finco a espada,
não há retorno, estou só.
Em mim, seus tecidos
e a morte de mamãe.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A Festa dos Apóstolos para Emanuel

Pedro traz de presente um chapéu de cor cinza, traz consigo também seu irmão, André. Este último traja um roupa de palhaço e prepara-se pra seu show de comédias circenses. Quando abre a porta, vê todos, bem ali, presentes. Mateus, cantor de Bossa Nova, Tomé cineasta de curtas que um dia disse que seu sonho era filmar folhas em movimento, cortinas a favor do vento, o cabelo e a boca de Maria, enquanto atua e diz "Amar é tentar ser feliz num chão de tristeza".Tiago, filho de Zebedeu, em ciranda com Judas, que cospe amendoins nos adultos, festejam e riem quando André faz piadas. Choram com o tocar do piano por João, cujo o olhar é para Emanuel, que abre seus presentes e dança com Maria Madalena, a qual usa vestido longo e aberto, feito liberdade, feito uma criança numa chácara de árvores de laranja. Mas a noite é do viajante, é do sonhador e lutador, aquele que profetizava e levava a boa nova com seus discípulos em uma Combe velha. De cidade a cidade, deste interior, divulgavam a literatura, o cinema, o teatro de bonecos, nesta companhia de companheiros que sentem prazer naquilo de jogar uma tinta nos corpos e pintarem suas almas. Hoje, na sua festa de despedida, o melhor é celebrar seu funeral enquanto está vivo, não após o câncer lhe consumir. Os convidados sabem que partirá nestes dias e assim festejam sua morte. E seus risos e aplausos é pelo que este homem fez.

RITUAL

Tiro estas vestes de meu corpo sagrado, consumido por ti. Esses dedos ondulam minhas coxas, meu ventre, minha vagina e meus seios que deverás um dia foi acariciado pelo teus. Agora em frente ao meu reflexo, observo minha pele, trajada por marcas de prazer. Bebo meu copo de vinho e fumo, enquanto ando livre pelo apartamento, danço Maria Bethânia. Eis que agora solta estou, sinto o vento desvirginando minhas alegrias, quebro teus presentes, queimo nossas fotos, lavo os tecidos da cama e me deixo tocar por cada gota desta ducha, que limpa minha pele e minha alma. Rio e canto, me masturbo e sinto o prazer de não ser tua companheira. Ao fim deste ritual me desvirtuo de ti. Agora sou qualquer objeto que eu quiser.

Nós, que eramos três

Eram prazeres, tristezas, choros, felicidades, eram palavras, filosofia e sexo. Era companherismo. Convocávamos nossos sentimentos e pensamentos em uníssono. Compreendíamos nossos orgasmos, nossas mãos, observava os dois, homens delicados e sensíveis. E quando transávamos sentíamos um. Era cheiro, emoção, era aventura.
Jogávamos nus em cachoeiras, corríamos em vastos verdes campos rodeados por paineiras, fumávamos maconha trocando alucinações de existência e objetivos de viver. Sem nenhum preconceito nos tocávamos para nos conhecer, nos tomar a própria consciência de ser nós mesmos. O importante é viver sem esse compromisso, era apenas o conhecimento de que um dia iria acabar e não se leva nada e não se deixa nada. Se queres marcar é pois porque tens uma mancha venérea, que corrói, aí quer manchar os outros, o itinerário é viver pra simplesmente viver. E eu, a mulher no meio daqueles dois gorotos e eles com eles, nos descobríamos, nos perdíamos, eis o carinho sem querer ganhar para um dia ser um perdedor.

domingo, 15 de novembro de 2009

Aos 18

As feridas começam a estancar.
O que será de mim amanhã?
A resposta encontrarei esta noite,
na batida dessa saída obscura,
com minha ciência,
minhas roupas de cotelê
e meu All Star azul.

Abrir os olhos e encarar a realidade,
vou pôr minha cara a tapa
sem medo, receio e preconceito,
o que quero é experimentar
e então viver.

Escrito a duas mãos!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Bananas Trufadas e Caramelizadas II, escrito a duas mãos

Modificado por Eder Rodolfo


Oculos Ray-ban, chinelos Havainas, bermuda xadrez e uma camiseta branca básica. Look perfeito para ir ao chaveiro naquela segunda de manhã.

Chega ao seu destino.

Atendentes: Velhos. Ora, pois, dentadura amarelada caindo à boca, remela impactante aos olhos de qualquer pessoa convencional, sulcos profundos na testa, nas bochechas... no corpo todo. Genitálias anacrônicas. Parecia que a névoa da manhã tinha se assentado sobre seus cabelos, os quais se viam embevecidos pela fumaça vinda de seus pulmões a cada tragada que davam.

Atendente mulher: Boa tarde, moço.

Atendente homem: O que você quer?

Mancebo: Venho, por meio deste, lhes informar que tenho conhecimento da palavra chave.

Atendente mulher: Qual?

Mancebo: Pois bem, a palavra é...

Atendente homem: Na mosca.

Atendente mulher: Chega mais.

Seguiram por um longo corredor negro. Abriram as portas da esperança. A sorte estava lançada.

Atendente mulher: Homo ou hetero?

Mancebo: O que me apetecer.

Atendente homem: Pode olhar.

Enquanto vistoriava, dizia a si mesmo: (pênis vinte centímetros Powerscrap) hoje não, (lubrificante Escorrega e Entra) hoje sim, (dados Kama Sutra Viintage) hoje não, (vagina pulverizadora Atenas Schifosa) hoje sim, camisinha Cabeça de Vênus sabor melancia atômica) hoje sim, (consolo vibratório L’Amour De Moi) hoje sim, (calcinha comestível Apertados em Santos sabor jabuticaba alemã) hoje não. Assim se seguiu a lista de compras nada convencional do mancebo que visitava os chaveiros.

Pi, pi, pi.

Atendente mulher: Tocou o som.

Atendente homem: Estou escutando.

Atendente mulher: Ele foi escolhido.

Atendente homem: Deve de ter as medida certas.

Atendente mulher: Se o computador tá falando, é verdade.

Atendente homem: Ele analisou pelas câmeras.

Atendente mulher: Então, vamos fazer o serviço.

De um baú ousado retiraram uma seringa de ouro de tolo, introjetaram aquele líquido peculiar de coloração rosa e, num pulo de gato, injetaram a solução no dorso da mão do mancebo. Ele caiu duro por terra. A morte chegou. Os atendentes abaixaram sua bermuda e seu samba-canção. Com o facão, deceparam o órgão genital do mancebo que não passava dos trinta e nove centímetros. O computador não errara.

Mumificaram com formol e cera aquilo que deixara de ser uma parte do corpo e agora era um objeto na estante de vendas. Os negócios iam de bem a melhor

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Vestígios Invisíveis

Em cena, em ato, mas com engano,
alucinei sabores etéreos,
tracei o incerto futuro envolto de teu calor.

A felicidade utopizada ora roga pra ser ligitimada
ora para ser extirpada dos meus pensamentos,
que arrancam minha essência.

Regogizo tatear sua pele
na ilusão repetida,
em eco desse ego ferido.

Escalda em meu corpo esta vaga a ser preenchida,
em falta inquietante
ainda planejo o irrealizado,
em vã loucura
exalar teu cheiro.

Em trajeto irreparável,
perfura o âmago
indigna o ideal,
dissecando junto a esperança
de me afogar na melodia de tua voz.
Assim derramo a tristeza da fonte
a fim de secá-la.




Escrito a duas mãos.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Um abraço

João Ricardo
Gerson Conrad
Ney de Sousa Pereira
.
O próximo paciente, o que se chama solidão, o que se chama morte, o que se chama patologia é o mesmo que se chama tristeza. Maria, na ânsia de não pensar a respeito da receita que daria a tais pacientes, trabalhava no hospital que a catedrou. Sua aposentadoria livrou metade de seu tempo a prazeres pessoais e a outra ao apartamento vazio na Barra. No que diz respeito ao primeiro, trabalha como médica, levando na bolsa a carteira de identidade, que acusa:
Data de Nascimento 30/08/1934.
O que direis, se o que disse é o nome de seu último paciente do dia. Pronuncia Amácio Salles, isto não lhe soa estranho, diz novamente. Sua testa exprime-se e seu cérebro faz ligações.
Senta na cadeira, leva a língua até o céu da boca, estremece o pescoço e olha para a porta. Branca, diferente de sua memória que agora usuflui de uma aquarela de lembranças. E ela se abre, como sua mente, como a morte.
Raciocina: como ele está diferente, seu cabelo ralo e loiro e seus olhos azuis se perderam num rosto enrugado, numa cabeça calva e num andar corcunda. De sua boca, as vibrações produzidas chegam ao ouvido de Maria.
-Espero que se lembre!
-O que fica são acontecimentos que nos marcam, ruins e bons, que o cérebro não apaga! ...E lembro-me de seu abraço.
-Pois me lembro da distância e do que não foi vívido.
-Do último não me lembro, não aconteceu! É, ah ... o tempo não volta e está passando.
-Seria diferente, uma outra vida.
-São escolhas, poderia ter transado com você, casado e envelhecido ao seu lado!
-Seria melhor?
-Apenas seria diferente.
-Bom, acho que não vale lamentar. O meu pai foi morto pelo seu e nós ... não há passado que se torne presente! Estou consumido.
-Então um abraço.
Cordialmente um abraço. Não há movimento oposto dos ponteiros do relógio!


China Girl

Ali, assim. E o mesmo comigo.
Longe de uma tradução,
se expressava numa linguagem emblemática.
No movimento da testa e na lágrima
percebia apenas sua tristeza!



(A linguagem corporal e a solidão são universais.)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Carta ao Senhor Reginaldo

Boa noite, senhor meu pai. Como vai? Hoje, passanado pelas ruas, aqui do Rio, vi dentro de uma casa uma pequena vitrola. Esta paisagem me fez lembrar do senhor, de quando escutava os LP's do Tonico e Tinoco sentado na poltrona. Depois de tantos anos resolvi escrever, tantos anos sem te ver, desde quando saí de casa, após nossa discussão. O senhor nunca nos deu atenção, a mim e mamãe, pernoitava nos botecos com biscates. Não me aceitou, mas eu me aceitei.
Trabalhei num restaurante, durante quatro primaveras, com uma parte do que juntei de meu salário e com a outra que roubei do caixa, comprei meus seios. Enquanto mantive um relacionamento com o irmão do dono do restaurante, tive uma vida regada a luxo. Isso acabou quando sua mulher descobriu nosso caso, mas de uma coisa recordarei:ele me presenteou com um tratamento para que meus pelos não mais nascessem. Tornei-me Rebecca.
Agora tenho uma profissão, sou transformista, drak-queen e me apresento como Cindy Lauper. Guardo alguns trocados para fazer a cirurgia de mudança de sexo e assim me tornar uma verdadeira mulher. Mas isso é externo, por dentro sempre fui e é isso que o senhor tem que entender. O meu corpo, minha fisiologia, o meu contorno não determinam meu psiquismo. Sou traveco, antes não fosse, seria Rebecca do mesmo modo. E o que sei, é que busco a felicidade.

Rio de Janeiro, 7 de junho de 2009.

De: Antes Leonardo, agora Rebecca.

A Face Escura da Vida

M: L, realmente me deseja?
L: Sabe que sim, mesmo...
M: Mesmo assim, desfigurado?
L: Quero sentir o seu cheiro, quero sentir a textura de sua pele, quero você.
M: Se é isso, tome a faca! Se me anseia, use a faca em seu rosto e deixe ele com cicatrizes profundas.
L: E desse modo que você me ama?
M: Não foi fácil o acidente, não foi fácil tirar as ataduras de meu rosto e vê-lo deformado. Não é fácil ver o seu, nítido. Tenho ciúmes!
L: Isso não provará o quão gosto de você. Apenas vai me fazer sofrer!
M: E eu, eu já sofro! Você vai continuar olhando meu rosto enquanto transa comigo? Vai ter tesão?
L: Vou olhar em seus olhos, dentro deles. Eles continuam os mesmos.
M: Não vou supotar este estirpe. Me agoniza, não consigo me ver no espelho, não consigo me direcionar à sua face! Faça isso, seja como eu, me ame! Pegue a faca.

Narrador: Então L tomou a faca entre as mãos...

Recebo a semente,
que germinará.
Do meu solo
florará o futuro.
O fruto vingará
entre minhas pernas.
.
.
Possuo o segredo.
que desperta desejos.
De meu sotão
nascem mistérios.
A Caixa de Pandora escondo
entre minhas pernas.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O SANGUE ENTRE MINHAS MÃOS

Escoa sobre meus dedos,

um prazer que toma meu corpo.

É semelhante estar escutando Edith Piaf.

Sinto-me leve e calmo,

preciso disso, ouvir e

sentir seus gemidos e suas dores,

enquanto as esquartejo.

É gratificante ver a tesoura de mamãe,

cortando e retalhando.

Pareço estar numa colcha

costurada de orgasmos.

Arquitetada como poemas shakespearianos!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Carta a Betinho

Olá, como vai?
.
As coisas aqui não andam fáceis, tem que se ter prudência e sobretudo medo. Mas acredito no futuro e na derrocada da carta do Rei de Copas, também sou utópico em não substimar a memória desse povo. Eles não esquecerão dessa prole de artistas e das lutas pra mudar.
Ontem vi Nara, coração de Leão, junto a ela estava Chico e Maria, se deliciavam em risadas, filmavam com Cacá Diegues. A boca do povo te proclama, Elis gravou uma música daquele amigo do Gonzaguinha, acho que seu nome é Aldir Blanc. As vezes prefiro que Clara Nunes tivesse posto sua voz, mas nos últimos tempos tem se preoucupado com a difusão da cultura africana. Me pergunto por Caetano e Gil, a Tropicália se extinguiu e não ouço mais as flores. Nosso espetáculo são os Novos Baianos e a preta, preta, pretinha Elza Soares.
Fui à Bahia com Jair, em desparadas conheci um tal de Glauber Rocha e lá também estavam os mineiros do Clube da Esquina. Receio que no futuro nossos jovens não se lembrem de Jobim, Secos e de Geraldo. Mas tenho que ter fé. Até mais, irmão do Henfil. Abraços.
.
.
Rio de Janeiro, 01 de Abril de 1975.


De alguém que nascerá um ano antes da morte de Raul Seixas e Luiz Gonzaga.

LEGO

Procuro nos rostos.
Encontro em algumas pessoas,
peças que se encaixam.
Formando o contorno.
.
.
Recorto olhares e colo bocas.
Desenho em aquarela sua expressão.
Esquadrinho cada ser
e capto traços que te lembram.
.
.
Na ânsia de deslubrar sua feição
e me perder no mar de seus olhos,
acabo juntando partes para acalmar meu coração
e satisfazer a saudade de alguns momentos.

CATARSE

Pulsos mórbidos que não mais vibram

Olhos calentavam por uma nova razão,

viram a ferida da dor parasitar toda a alma

viram o corte profundo traçado no peito,

e a morte, que não desejava, foi a única solução.

..

Nos bailes da vida dançava sozinho.

Disse que era tudo leve e havia de passar,

mas somos nós seres que sofremos, não você.

Com nossa angústia num mercadológico processo.

Quem vai ganhar o concurso?

A mais bela e mais inteligente.

Vou embora sem o prêmio, sempre.

Joguei na mesa o dado da pressão dos 3:

carreira, dinheiro e beleza.

VocÊ veio e perguntou quem é vocÊ?

Tenho que responder sou um garoto de tal profissão.

Ansiava responder que sou e que gosto.

Não se meu cabelo é bonito.

É meu coração que bate por um país melhor.

Um educação priveligiada e uma retomada da arte.

Por isso hoje morro, por que vocÊs esqueceram quem sou.

Mas se lembram o que tenho. E não tenho vocÊ.

Os jovens apodecrem nessa luta capitalista, faça Medicina, compre Osmoze, seja chique.

Seja vocÊ, seja eu. Vamos comprar a poção pra nos fazer crescer internamente, vamos amar.

Não importa o meu carro. Importa-se com que digo? No que vivo?

Por isso usei a fina, a fina faca.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Minha Cidade Maravilhosa

Texto escrito em 2005, tempos que gostava do Rio e tinha vontade de ser o novo Maneco.

O dia nasce em mais uma manhã carioca e com ele a visão que concretiza a famosa perífrase "cidade maravilhosa". Entrelaçada pelos morros, o Rio de Janeiro se torna impetuoso e se faz presente em todas as extensões artísticas, de Machado de Assis com Dom Casmurro ao glamuroso Leblon de Manoel Carlos.
Começo a me mover pelas ruas da Veneza Brasileira, passo pela Gávea, Barra da Tijuca e chego em Ipanema. Em minha boca nasce a vontade de cantar "olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..." e continuo minha caminhada. Num momento um desejo trivial toma conta de mim: queria ficar nú e me banhar no mar de Copacabana, com vista para o Corcovado.
O Pão de Açúcar me espera, preciso agradecer ao Cristo Redentor de viver nesta cidade tão bela, a cidade do maior carnaval do mundo e peço que ele traga paz e união. Gostaria de ter asas, como os anjos, para poder voar e vasculhar cada canto, cada várzea, conhecer Nitéroi sem precisar passar pela extensa ponte Presidente Costa e Silva e ver a Rocinha como ela realmente é.
João Gilberto tinha razão em dar ao Rio o título de berço da Bossa Nova, não existe cidade mais boêmia e romântica que essa, afinal Chico Buarque vive aqui. No fim de mais um dia, o Sol se põe e posso então confirmar o que a música declara "o Rio de Janeiro continua lindo!"

EU

Tudo o quis ser em minha vida era transcrever emoções, já que não as vivo. Desde de pequeno tenho a vontade de escrever, roterizar. Acima disso trabalhar com artes, quero que as pessoas entendam isso. Não posso deixar isso morrer, este sentimento desaparecer e a configuração de minha adolescência evaporar-se. Agradeço ao Dione pela co-autoria em minhas pseudo"telenovelas" (que época interessante), ao André (que desconhece isso) ajudou-me a tomar um novo caminho em minha vida (nos meses iniciais de minha faculdade), à Gre que me fez entender quem sou e agradeço a Tia Irene por ser meu espelho intelectual.
Algo novo, vida nova, dias terríveis, para isso existe Roberta e Flávia. Alguém que está marcado em minha memória é Márcia (não sei qual é nossa conexão) e das tristezas e alegrias de nossa fase escolar. A minha tia Silvia (pelos dias felizes em sua casa) e tia Ivone pelos ensinamentos. Minha mãe que sempre lutou por mim, amo-te. Minha infância foi marcada pela presença de minha prima Luiza e se hoje não é mais como antes, saiba que existe algo que ficou. À Katiele e ao Eduardo que eleveram meu nível de conhecimento. Não vou desistir de mim, não vou desistir de me encontrar e ser feliz. Não vou desistir de ser cineasta (queria achar a razão de tanto amor).

A História da Calma Maria

Texto escrito em 2003:

As minhas amigas dizem que sou estérica, que tenho ciúmes de tudo e de todas que chegam perto de meu marido. Eu não penso assim, só cuido do que é meu. Um dia meu marido estava na sala e eu no quarto. Aquele dia fiquei nervosa, ele estava na frente dela e ela na frente dele. Eu disse para ele:
-Vem amorzinho, vem pra cama, estou com saudades!
- É que está muito bom aqui -disse ele.
Eu fiquei morrendo de raiva, ele prefere a safada do que a mim. Sei que ela é novinha, tem belas curvas, é bonita e todos ficam o dia inteiro tentando vê-la. Mas eu, onde fico nessa traição indireta.
Depois de um demorado minuto, eu falei que se ele não fosse na cama naquela hora não responderia por mim. E ele me retrucou, blasfemando que eu era doida, que não estava acontecendo nada de anormal.
Fiquei uma arara, peguei-a de lado e a joguei para fora na janela. Eu tinha minhas razões, ele ficava hipnotizado olhando para ela, para a safada, a safada televisão.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"A vida é muito longa quando se está sozinho" (The Smiths).

Esta noite foi tudo o que eu quis.
A tristeza, que amarga a vida, evaporou-se
e a solidão, que desvirginava minha mente, esmigalhou-se.
.
.
Todo ser procura incessantemente ser feliz:
(O ser humano é estômago e sexo).
.
.
INDIE
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Fui com meus drugues ao Pub Fiction,
pude me afundar no real underground.
.
MÃE
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Toquei meu filho, ele encheu meus braços.
Meu marido desejou-me em cantos românticos.
.
PROSTITUTA
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Eu o comi,
abriu minha calcinha e pôs mil reais.
.
SONHADOR
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Conheci pessoas com estupenda vontade,
faremos revoluções culturais.
.
SOCIOPATA
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Dois amigos vieram em minha casa,
debruçamos músicas em apoteoses criacionistas.
.
PRÉ-ADOLESCENTE
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Me masturbei num platonismo homérico,
alcancei o orgasmo antes inédito.
.
ADOLESCENTE
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Toquei-a, penetrei em sua boca
e esquadrinhei o desejado relevo.
.
NAMORADA
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Fiquei ao seu lado enquanto me roçava de leve.
Confessei-lhe segredos.
.
HOMOSSEXUAL
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Contei aos meus pais e eles aceitaram cordialmente.
Tenho forças para sair nas ruas, vencer hostilidades.
.
ARTISTA
Esta noite foi tudo o que eu quis.
Escutando Secos, deslanchei minhas tintas.
Com os dentes mordo os preconceitos.

oLHO mÁGICO

e EU AQUI.
pOSTADO EM FRENTE À PORTA,
INTACTO NO OLHO MÁGICO,
ESPERANDO QUE ELE APAREÇA,
SUBINDO AS ESCADAS E
VINDO ATÉ MINHA ENTRADA.
.
.
tRISTEZA, O MEU CORAÇÃO TRANSBORDA.
áVIDO PARA QUE ELE ESTEJA AQUI,
FICO SUBMERSO NO OLHO MÁGICO,
BEBENDO VINHO
E ESCUTANDO jOBIM.

Se Perdendo

Se o certo é errado,
as idéias se misturam.
A existência indaga meu ser.

Aprendi que de início é preciso amar-se,
assim amar-te é o que eu não faço.
O que de fato desejo é a calmaria

As linhas se cruzam e não há seta,
a que abafa a solidão é a direção a seguir.
Sei que os seres nunca alcançarão a felicidade.

As drogras que uso são meios de fuga,
a realidade parasita minha mente.
A revolução é o meio das cores serem sentidas.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

AMANTE A LA CAZUZA

DESEJO-TE INEXCLUPULOSAMENTE
ROUBEI-TE OLHOS, BOCA E COLO
MEU DELÍRIO ACOITA SEUS DESEJOS
.
.
MINHAS VONTADES APAZIGUAM EM SEU SUOR
SUFOCO-TE COM MINHA EMBRIAGUEZ CARNAL
QUERO-TE INCESSANTEMENTE

Maria Desdentada

Descendo a ladeira,
lá vem a Maria Desdentada.
Destilando seu charme e remendo.
Vale-se a verdade: beleza Deus não a deu.
O que tem é força para lutar
e sonhos para realizar.
.
.
Vem rebrando Maria Desdentada,
anda no ritmo do gingar das bijoterias.
Usando vermelho e cheirando até o pescoço.
O charme a acompanha para mais um dia de rua.
Vai no ponto para um encontro marcar,
que é pro pão de casa não faltar.

Woodstock

GI-GI-Mundo que gira
V-V-Vou a caminhos vou
Do Oiapoque PING-PONG parto
HUF-HUF-HUF cala galo
Galopo sobre a mula-sem-cabeça
Hasta el fin del camino
Em VOLTO-VENTOS-VENTANIA
TEMPESTADE-TUFÕES-curupira
Semeia, semeando GU-GU-guaraná
DI-MAN-CA-O
EN-campos-TRE lobisomens
AU-AU-AU-Uivam
TRI-TRI-TRI-TRI
TOC-TOC-TOC-TOC
Vou TOC ao TOC Chuí TOC traçar
Linhas de Tordesilhas
O boto botou a bota do Saci
Eis que galopará comigo
Iremos nós conosco, pois só, só é triste
O dia da chegada ai de chegar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

VIETNÃ ÃNTEIV

Fecham-se as portas
Levo nos ombros o cansaço
e no coração a dor dos dias que virão
Levo a lembrança dos momentos
ímpares que tive ao seu lado
Trago seu corpo estilhaçado em My Lai
Trago a vergonha de ter sido soldado
e a carta de expulsão em minhas mãos
Simples, por ter admitido que amo
Calam-se as guerras

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Grande Religião

Vamos nos rebelar

Vamos rezar pelos nossos santos

nossos ídolos, nossas influências

Vamos pagar nossos dízimos

as livrarias e cinemas

Vamos amar a arte

acima da morte, acima da dor

Vamos nos ajoelhar

santificar a liberdade

Vamos purificar a mente

com saraus e diálogos

Vamos VIVER.

A Grande Arte

Tintas, tintas, tintas

tintas vermelhas

vermelho Almodóvar

festim dum passado

tumultos, tumultos

traumas (Édipo).




Pincéis, pincéis, pincéis

pincéis oníricos

oníricos reais

festim de dúvidas

incertezas, incertezas

existência (Sartre).

Um Destes

Sobre

Sob

assim na superfície

assim na massa

olha

participa

analisa

congrega-se

critica

membra-se

antropólogo.

cidadão.

A Labutar II

Mexe, mexe, negro

mexe para labutar

que o capital vão cobrar.

A Labutar

Soa

trabalhador

para comida

em casa

pôr.

Quero

Quero alguém para respirar comigo,
bufar seus gemidos e ardores.
Quero sentir sua textura e me perder em seu relevo,
matar minha sede em seus lábios.
Quero viciar-me em seu cheiro,
gozar olhando sua face.
Quero soletrar em seu ouvido
e ouvir no meu “fique aqui”.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Teatro da Vida

A cortina abre.
Eis que o espetáculo começa,
com o teatro rugido de vidas.

Como numa peça de Brecht,
o ator ama, chora, ri e odeia.
Encorpora uma gama de sentimentos.

No Grand Finale,
a fadiga inunda o ser.
A cortina fecha.


segunda-feira, 27 de julho de 2009

TRASH

Pelas ruas fétidas e negras de Chernobyl nascem baratas encouraçadas de nojeiras cadavéricas. Vegetam em um meio radioativo, onde suas células se embriagam de metamorfoses maléficas. O cheiro do esgoto e dos defecos de prostitutas que se lambuzam em cânceres empesta um pequeno inseto que adquire uma forma lynchiano de berração somática. Esta tal faz produzir pus num pacote intestinal dessa barata acrobática. Ela rasteja e anteniza-se as rosas de Hiroshima.
Cresce inexplicavelmente no Freaks ucraniano, uma enorme bolha de pus radioativa. Este inseto não suporta tal estupor, explode. Pedaços de tecido e gosmas de pus alcançam as nuvens fazendo-as precipitar sobre o sul da terra amaldiçoada. Chuva radioativa que cai sobre humanos mórbidos anticulturais homofóbicos, tais gotas lambuzam os corpos desses seres neoevoluídos fazendo-os se transformar numa experiência de Hitler. Se tornam zumbis, canibais romerianos, que chupam sangue, trasladam esqueletos e devastam este planeta.

Se todos fossem Simon e Clara

Sendo o colosso da vontade,
vontade de mudar uma nação
desde a maré de pensamentos
até a realização da ação.
Por venturas andei sonhando
com o meu cavalo traçado,
traçado de cores patriotas.
Corri com o coração alado
e a voz contundente
em prantos de indignação.
Saltei muralhas e fiz do fundo
o lugar onde fui parar.
As margens dessa cultura
nadei no rio das revoltas.
Firme permaneci até dias de angústia,
buscando a identidade
de um povo que esquece.

Prece de um Cidadão

República-Nossa, que estais em Brasília, santificado seja nosso Brasil. Venha a nos a vossa cultura, seja feito um sistema educacional melhor, assim como na Finlândia e na Noruega. O direito como cidadões nos daí hoje, perdoai nossa paralisia, assim como perdoemos tio San pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki e não nos deixei cair nas mãos do capitalismo. Livrai-nos de toda alienação. Amém.

Arquitetando Morrissey

Vai ao teatro para poder lhe ver,
para esquecer que mora só,
que acorda só.

Vai ao cinema para poder lhe sentir,
para esquecer que cozinha para si,
que almoça consigo.

Vai a biblioteca para poder lhe falar,
para esquecer que é artista de si mesmo,
que ele mesmo contempla suas obras.

Vai a lugar algum para poder lhe abraçar,
para esquecer que ainda não lhe encontrou.

Dançando a Sós

Bernardo vê.
A moça movimenta
suas curvas
em deslocamentos poéticos.
Sobressai-lhe a mão
em ritmo que toca o garoto.

Bernardo suspira.
A moça dedilha
suas pernas.
Encanta ao demonstrar toda dor
que sai em seus passes.
Interpreta ‘I know it’s over’.

Bernardo chora.
A moça contorce
seus membros.
Sublima a mente
ao dançar em descontinuidades.
Logo o garoto esquece que vai embora só.

DECIDI O BILATERAL

Pensei em ficar sozinho,
ser livre a todo instante.
Tragar minha alma a independência,
fazer da minha vida um mar unilateral.
Sentado em minha mente excêntrica,
avistei um par de andorinhas.
Refletindo em meu coração
conclui a idéia de não ficar só.
E de que toda espécie exprime,
necessita de alguém para repartir o prazer.
O grande prazer de viver.