quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

É ISSO

Ao pé dessa figueira
construímos nossos desejos e planos.
No cantar dos pássaros,
o tempo galopou e nos levou.
Edificamos nossas vidas
com pedras de quintal.
E de mãos dadas,
no suspiro do velho gato,
aguardamos as rugas.

VERMELHO

Este que queima,
dilacera o solo, a vontade, a grama no jardim.
Conduz a secura das folhas desta mangueira, das composições, da memória.
Seu intenso faz evaporar os sonhos, as águas deste corrigo, a alegria.
Ao íntimo violenta estas frutas, a pele e os seres que vagueiam nesta terra morta.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O SANGUE ENTRE MINHAS MÃOS II

Nestes corpos esfrio as ganas,
no podre alivio as tensões.
Incontrolável.
Finco a espada,
não há retorno, estou só.
Em mim, seus tecidos
e a morte de mamãe.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A Festa dos Apóstolos para Emanuel

Pedro traz de presente um chapéu de cor cinza, traz consigo também seu irmão, André. Este último traja um roupa de palhaço e prepara-se pra seu show de comédias circenses. Quando abre a porta, vê todos, bem ali, presentes. Mateus, cantor de Bossa Nova, Tomé cineasta de curtas que um dia disse que seu sonho era filmar folhas em movimento, cortinas a favor do vento, o cabelo e a boca de Maria, enquanto atua e diz "Amar é tentar ser feliz num chão de tristeza".Tiago, filho de Zebedeu, em ciranda com Judas, que cospe amendoins nos adultos, festejam e riem quando André faz piadas. Choram com o tocar do piano por João, cujo o olhar é para Emanuel, que abre seus presentes e dança com Maria Madalena, a qual usa vestido longo e aberto, feito liberdade, feito uma criança numa chácara de árvores de laranja. Mas a noite é do viajante, é do sonhador e lutador, aquele que profetizava e levava a boa nova com seus discípulos em uma Combe velha. De cidade a cidade, deste interior, divulgavam a literatura, o cinema, o teatro de bonecos, nesta companhia de companheiros que sentem prazer naquilo de jogar uma tinta nos corpos e pintarem suas almas. Hoje, na sua festa de despedida, o melhor é celebrar seu funeral enquanto está vivo, não após o câncer lhe consumir. Os convidados sabem que partirá nestes dias e assim festejam sua morte. E seus risos e aplausos é pelo que este homem fez.

RITUAL

Tiro estas vestes de meu corpo sagrado, consumido por ti. Esses dedos ondulam minhas coxas, meu ventre, minha vagina e meus seios que deverás um dia foi acariciado pelo teus. Agora em frente ao meu reflexo, observo minha pele, trajada por marcas de prazer. Bebo meu copo de vinho e fumo, enquanto ando livre pelo apartamento, danço Maria Bethânia. Eis que agora solta estou, sinto o vento desvirginando minhas alegrias, quebro teus presentes, queimo nossas fotos, lavo os tecidos da cama e me deixo tocar por cada gota desta ducha, que limpa minha pele e minha alma. Rio e canto, me masturbo e sinto o prazer de não ser tua companheira. Ao fim deste ritual me desvirtuo de ti. Agora sou qualquer objeto que eu quiser.

Nós, que eramos três

Eram prazeres, tristezas, choros, felicidades, eram palavras, filosofia e sexo. Era companherismo. Convocávamos nossos sentimentos e pensamentos em uníssono. Compreendíamos nossos orgasmos, nossas mãos, observava os dois, homens delicados e sensíveis. E quando transávamos sentíamos um. Era cheiro, emoção, era aventura.
Jogávamos nus em cachoeiras, corríamos em vastos verdes campos rodeados por paineiras, fumávamos maconha trocando alucinações de existência e objetivos de viver. Sem nenhum preconceito nos tocávamos para nos conhecer, nos tomar a própria consciência de ser nós mesmos. O importante é viver sem esse compromisso, era apenas o conhecimento de que um dia iria acabar e não se leva nada e não se deixa nada. Se queres marcar é pois porque tens uma mancha venérea, que corrói, aí quer manchar os outros, o itinerário é viver pra simplesmente viver. E eu, a mulher no meio daqueles dois gorotos e eles com eles, nos descobríamos, nos perdíamos, eis o carinho sem querer ganhar para um dia ser um perdedor.