quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mulher

Às oito e dois, em frente a janela, como um dogma , toda manhã este lugar, esta olhada para o fora.
Meio dia e dez, corre na porta, na espreita, observa do vão a rua e seus pedestres. Seis e oito, na calçada varrendo as folhas inexistentes, admira, sustenta a leveza da graça, da divina graça, que é a beleza da menina.
Freqüente, recorrente como hóstia em missas e padres a desejar, o velho senhor conduz seu dia. A ação continuada e feita dos todos, numa sexta se deixou a não ser realizada. Quando de sua boca, saiu um “Oi” à garota.

A garota perplexa se manifesta: “Oi...sem relógio estou”.
-As horas já não me fazem falta, não procuro por elas.
-O que queres achar?
-A mosca na sopa.
-O inconcebível.
-Te tocar, seria algo que não pode ser feito.
-Um abraço.

O velho senhor no movimentar de suas pernas transladou até seus armários, das caixas que guardadas naquela estavam, se fazem nesta deixadas fotografias, recortes de jornal. Passa a mão por cima dos recordáveis e autentica a alta semelhança na face da mulher dos papéis lembranças a respeito da garota que transeunte a frente de sua casa.

Eu e Senhorita Bauab

Numa clara sala, radiada pelo Sol que desce,
se esconde dentro de nossos corpos o desejo,
de tomarmos este chá das quatro e seis.
Nos embebedamos com Mate.
E com os biscoitos que nos acompanham,
falamos de Longa Jornada Noite Adentro.
Na vitrola, não um disco de Cardel, mas sim de Ray Charles.
A colcha na cama, o cheiro de cânfora, os aneis da mão.
O beijo na boca e o abraço nas costas.
Após celebrarmos a porção incial,
quando negro o céu ficou, transamos loucamente.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Suporte

As escadas servem de porto a repousar a sedução esmalte vermelho, salto a salto, alto a alto. Sobre subindo leva nos bolsos a grana, identidade, a malícia, a libido e a vontade de sorrir. Leva a cara, a coragem, o desejo, o romance, a conversa de botas batidas, leva a vagina...dedo no botão, bate as pernas, passa a mão nos cabelos castanhos escuros, da cor de seus olhos, da cor de suas sobrancelhas. A porta se abre, do ap sai Ana. Cumprimentos.
Descem duas, lembranças, lançam-se nas vias públicas a custa de aventuras, a custa de olhares, flertes, vão à procura de um homem para uma transa.
O bar se mostra de longe comum, no âmbito do casual, e o casual neste ambiente é alternativo. Quem naquela noite adentraria nas saias alheias, sentiria o odor e ouviria os gemidos de orgasmos. O dono do bar, homem ativo, feio por natureza, o amigo de transas, Celso. Hoje tinha que ser um sexo malicioso, libertino, queria o ardor do suor. Celso traz consigo o romantismo, então ele não iria gozar no recinto de lances de roupas, maquiagens e AC/DC nas paredes.
Cigarro na boca, traga, copo de cerveja na boca, molda os lábios, que antes, um segundo atrás disse, “ele, sem graça, coxas pequenas, censo incomum, prazer a média, não há possibilidade.”
Sexo a inteiro, logo pra Isa o dono do pênis teria que ser de costas largas, cabelos desarrumados, pêlos largos, rabiscado pelo tempo, sem traços de metrassexuagem. Dois na mesa ao lado, outros três ali, gays pressupôs. Gay, hoje, não. Sexo oral,apenas, hoje não.
Analisa, conversa, pede uma porção de batatas, fala com Ana sobre as fontes de prazer. Riem quando um cara de estatura baixa lança uma piscada e se deliciam com os indelicados jogos de sedução de um oriental, cuspindo ao chão e coçando o saco. Homens para que te quero?
As altas horas, insatisfeita com as ofertas, Isa diz a Ana: vamos pra casa, aceito sua última proposta.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

CC

CC respira o ar
transita trocas gasosas
volta o vento, o sentimento
sai pelo sopro da boca,
pela vibração do saxo
que traduz seu eu

Nascido para Correr

Pelas ruas da cidade,
transitam pedestres na lida,
vindo de seus trabalhos.

Ganham seus salários
de respostas existenciais.
No lar, o destino do dia,
sentem os seus
e correm para o sorriso.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

'Dentro de Mim'

“Somos pássaro novo
Longe do ninho
Eu sei! Eu sei!...”


“Eu que já não sou assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz”



'A cada vez que um segundo gira no ponteiro deste vida relógio, eu respiro deste ar. O vapor faz transpor meu corpo a tecer linhas, desenhar imagens, rir com a folha caindo, seguir os caminhos das formigas, dançar loucamente ao som desta cortina que se descortina no vento desta tarde e viver. A cada vez um mínimo, a cada instante um extremo, a cada lágrima um exagerado e cada dia, viver. A cada momento a felicidade de estar vendo a mulher a ensinar suas alunas a cantar Milton “O que foi feito devera”. A cada... '


Um gota de água mistura com o sal da terra arranca a sujeira de seu olho direito, com o dedo esquerdo agarra esta gota, joga ela no ar, dança loucamente, senti o ar pressionando sua pele e seus pelos tocarem os objetos. Os mínimos são grandes pra esta mulher. Mulher Maria que se faz viva incansavelmente, que vive o viver ao estremo, que vive o viverá com extrema força. Mulher Maria deixa cantos sem vácuo, exaurindo sua delicadeza artística ao real feito.

Mulher Maria Louca sai catando pelas alamedas, vestindo roupas rasgadas, rindo. Mulher Maria Amor liga, manda cartas dizendo o quão ama seus queridos. Ela se joga nas folhas destas árvores para sentir a textura das palavras. Mulher Maria Brecht senti seus personagens no teatro, vai ao cinema, vai a qualquer lugar, onde o lugar é aquele lugar desejado. Mulher Maria Maria vivendo o intenso prazer do simples.



“O que foi feito, amigo,
De tudo que a gente sonhou
O que foi feito da vida,
O que foi feito do amor
Quisera encontrar aquele verso menino
Que escrevi há tantos anos atrás
Falo assim sem saudade,
Falo assim por saber
Se muito vale o já feito,
Mas vale o que será
Mas vale o que será
E o que foi feito é preciso
Conhecer para melhor prosseguir
Falo assim sem tristeza,
Falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos
Que nós iremos crescer
Nós iremos crescer,
Outros outubros virão
Outras manhãs, plenas de sol e de luz
Alertem todos alarmas
Que o homem que eu era voltou
A tribo toda reunida,
Ração dividida ao sol
E nossa vera cruz,
Quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem par
Quando o cansaço era rio
E rio qualquer dava pé
E a cabeça rolava num gira-girar de amor
E até mesmo a fé não era cega nem nada
Era só nuvem no céu e raiz
Hoje essa vida só cabe
Na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe,
Abelha fazendo o seu mel
No canto que criei,
Nem vá dormir como pedra e esquecer
O que foi feito de nós”



Maria procura o por quê de viver. Se algum de alguém achar, encontre-a numa esquina espasma de um sonho qualquer num sem graça de nada, de um amor que se foi, de tanto querer ser feliz.”


Maria escreveu este anúncio a um ano, quando após tentar parar de respirar. Motivos não haviam pra forçar seus pulmões a se oxigenar. Chorava em seu sofá, lembrando, lembrando...

Na passividade há meses, escutando Cazuza, fazia de sua mente um mar de vazio, por amar e não estar sendo querida, por não estar sendo plena, por não estar no palco. Da última vez que viu sua motivação, recorda-se dele dizendo “eu não gosto mais de você”. Em sua mente ficou na memória, ela derramando lágrimas, dando as costas a ele. Descendo as escadas, ouvindo o som das portas se fechando, das crianças brincando ao lado. No ponto esperando o ônibus, esperando a dor ser extraída de seu peito. Sentando no locomotivo observando os senhores conversando, e sua cabeça deitando-se sobre a janela, seus olhos captando as luzes desta cidade, onde as pessoas procuram emoções. Chegando em sua casa, chora ferozmente, recolhendo páginas em branco, fotos, cheiros e risos. Joga as lembranças fora e resguarda o luto em seu coração.

Dias de sentimentos quebrados, dissolvidos...meses sem sentir o perfume de se ver no espelho, de se gostar, de se querer viver, de dar valores ao fato de estar lendo estas palavras.

Para poder ser leve e os mínimos serem grandes, Maria compreendeu que precisa agradecer cada instante. Maria resolve ser aidética. Procura o HIV, o chama pra dentro de si. Nestes dias presentes ela transcende. Seu plano de querer dar motivos a cada momento, vivendo com garra e intensamente, sabendo que pode ser os últimos, dentro de um período de vida demarcado pela possibilidade de morte mais próxima. Agora Maria vive. O plano de Maria deu a cabo. Maria encontrou os por quês de viver.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Cotidiano

Seis horas da manhã:
A mão de Isolda aperta o botão vermelho do relógio. Ela levanta da cama, com os olhos fechados e remelentos. Quando os abre está em frente a sua reflexão no espelho do banheiro. Fica uns trinta segundos se contemplando até banhar seu rosto. Escova seus dentes e faz suas necessidades. Chega na cozinha e ponha a água para ferver. Enquanto não chega no ponto exato, Isolda volta sua atenção para a carne, tempera esta e a frita. Fervida, prepara o café com delicadeza e com o resto da água refoga o arroz. Pega a margarina e uma panela com feijão na geladeira. Volta, faz o lanche e coloca o café na garrafa térmica. Estes dois últimos itens, ela coloca num borná.
Vai ao quarto e chama o marido. O relógio aponta seis e meia. E ela retorna a terminar a refeição. Arruma a salada, a carne frita, o arroz, o feijão e farofa. Junta tudo numa marmita e coloca em outro borná. Recepciona o marido na cozinha com um bom dia. Passa-lhe as trouxas de comida e deseja-lhe um ótimo dia de construção.
Vai ao quarto que fica ao lado do seu. Bate na porta. Chama pelo nome de Ana, pede para que ela acorde. Na cozinha ponha o café sobre a mesa, pão e uma velha margarina. Espera a filha chegar do banheiro. As duas fazem a refeição da manhã juntas. Enquanto a filha se prepara para ir a escola, Isolda lava a louça do café. A filha diz até mais e dá-lhe um beijo em sua bochecha.
A mulher volta à cama e dorme até as nove. Acorda. Varre a casa, tira o pó de seu quarto, do quarto de Ana e da sala. Após, passa um pano úmido no chão. As dez horas limpa o banheiro e passa a roupa.
Onze e dez, começa a esquentar a comida. Quando a filha chega, almoçam juntas. A filha lava a louça do almoço e Isolda limpa o fogão, a pia e passa um pano úmido no chão. As duas se jogam no sofá. Isolda pergunta sobre a manhã da filha na escola. As duas conversam. As duas se aprontam. A mãe levará a filha até a classe de informática, depois irá ao centro. Deixa a filha no estabelecimento. Indo para o mercado, dobra a esquina e vai em direção ao porto.
Entra num banheiro de uma praça. Troca as roupas, usa batom, ponha peruca loira, lança perfume. Sai do banheiro e segue até o porto. No cais, passa por vários barcos de porte médio. No que nomeia-se Bárbara, pára e o adentra. Um homem de traços forte a vê. A abraça. A beija. A tira a peruca. A tira o vestido. Os dois transam. Ela o beija. Ela o cheira. Ela sente seu corpo com seus lábios. Os dois transam. Isolda coloca a peruca, coloca o vestido, coloca o batom e sai. Segue a rua até o banheiro público. Lá, tira a peruca, tira o vestido, tira o batom e segue até o mercado. Compra um macarrão, um quilo de carne moída e extrato de tomate. Pega a filha e chega em sua casa.
No fim da tarde prepara a janta. Macarronada. Arruma a mesa, toma um banho. O marido chega. O presenteia com um beijo. Após seu banho, os três se alimentam juntos. O marido vai assistir televisão e Isolda lava a louça. A filha fica em seu quarto no computador. Isolda vai para a cama e o marido a acompanha. Os dois conversam. Ele declara como foi seu dia e ela fala de apenas algumas coisas do que aconteceu no seu. Fala da angústia da filha estar crescendo, de sua mãe doente. O marido a abraça. O marido dá-lhe aconchegos. Os dois dormem. A filha dorme.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Voltar

No rádio canta-se liberdade.
Desfazer as garras, nadar,
emergir deste lago de dores,
tentar respirar o ar dos risos.

Meus pulmões serão purificados
e minha boca regorgisará.
Secarei as lágrimas de meus olhos,
o Sol evaporará estas águas.

Poderei andar em terra firme,
minha direção será o ninguém.
Caminharei a procura do nada,
pois o vazio persiste em existir.

Continuarei sem mais cicatrizes.
Por onde andar, não sei.

Revolver

Vivendo e aprendendo a reviver,
a cada morte de um carinho
perde-se uma pétala desta rosa,
que temo futuramente estar nua.

Simples

coisas simples
risos
colo
caricias no cabelo
um música a ouvir
um filme a assistir
um conversa
um abraço
uma lágrima por coisas simples não serem fáceis de se tornarem reais.

Manifesto do Movimento Cultural “Os Zarpadores da Terra do Sol”

Critérios para objeto ser considerado Arte:

1) O objeto da Arte tem um objetivo interpretativo;

2) Tanto a técnica ou a complexidade da obra não é de quinhão qualitativo em termos de importância;

3) Existem várias interpretações por parte do observador; A arte traz reflexões por isso;

4) O autor da obra tem sua própria interpretação de seu objeto. Desta maneira, surge o termo interpretação primeira;

5) A obra tem um nome identificatório;

6) O objeto da arte pode ser comercializado, mas não pode ser pré-modelada ou limitada por acordos comerciais. Ser manufaturada para comércio não procria objetos fora da arte;

7) A obra deve primeiramente e/ou unicamente agradar seu criador;

8) A expulsão de sua energia psíquica, ou seja, sua sublimação leva ao objeto arte. Dessa maneira, a criação de uma obra como uma película deve ser tratada como arte, pois expões idéias de seu idealizador, pois apresenta elementos confeccionados exortastes de sentimentos;

9) Em relação de a obra ser vinculada nos meio comerciais, nos meios de produção ou se se faz réplicas dele: a arte é suprema a qualquer jogo ou sistema econômico. A arte parte do ser humano. Logo o objeto da arte não deixará de o ser de acaso estiver pertencendo a um dos três itens iniciais;

10) O objeto da arte não é confeccionado para se adequar aos sistemas econômicos. Mas este não o deixará de ser da arte, se por acaso o sistema vigente se adéqüe ao objeto.

sábado, 22 de janeiro de 2011

A CASA MODELO

Cigarro na boca, mãos no volante, olhos à frente e ouvidos atentos a música do Oasis:

How many special people change?
How many lives are living strange?
Where were you while we were getting high?

Slowly walking down the hall
Faster than a cannonball
Where were you while we were getting high?

Someday you will find me
Caught beneath the landslide
In a champagne supernova in the sky
Someday you will find me
Caught beneath the landslide
In a champagne supernova
A champagne supernova in the sky

Wake up the dawn and ask her why
A dreamer dreams, she never dies
Wipe that tear away now from your eye

Slowly walking down the hall
Faster than a cannonball
Where were you while we were getting high?

Someday you will find me
Caught beneath the landslide
In a champagne supernova in the sky
Someday you will find me
Caught beneath the land slide
In a champagne supernova
A champagne supernova

'Cause people believe
That they're gonna get away for the summer
But you and I, we live and die
The world's still spinning around
We don't know why
Why, why, why, why

How many special people change?
How many lives are living strange?
Where were you while we were getting high?

Slowly walking down the hall
Faster than a cannonball
Where were you while we were getting high?

Someday you will find me
Caught beneath the landslide
In a champagne supernova in the sky
Someday you will find me
Caught beneath the landslide
In a champagne supernova
A champagne supernova in the sky

'Cause people believe
That they're gonna get away for the summer
But you and I, we live and die
The world's still spinning around
We don't know why
Why, why, why, why

How many special people change?
How many lives are living strange?
Where were you while we were getting high?
We were getting high
We were getting high
We were getting high
We were getting high
We were getting high
We were getting high
We were getting high
We were getting high
We were getting high


A estrada em seu percurso traz e leva pessoas aos seus destinos, às suas vontades. Vontade de contornar o passado, de reescrever, desistir de ser o melhor para apenas viver, já que de nada, nada lembrará. Douglas, comanda seu carro nesta estrada, cujo destino será a volta a sua adolescência. Vira à esquerda, passagens rodeadas de plantação. Mais um cigarro. Mais de New York Dolls. Mais uma olhada no retrovisor.A poeira da estrada assenta no veículo. Como é o tempo, uma poeira que esconde as lembranças.
Vê as duas casas de longe. Não consegue continuar. Pará o carro. Sai para vomitar. Vomitar as cicatrizes. Vomitar a amargura de não saber a estrada que o futuro trilhará. Não saber por quê existe. Não saber por quê não pode usar roupas de brechó. Não saber por quê a mulher da padaria é feia. O por quê de achar alguém feio. Não saber acabar com o consciente coletivo.
Assina um cheque e passa para as mãos do ser que carrega rugas em sua testa. Este é o chamado proprietário dos dois imóveis, que agora estão sobre a tutela deste que carrega uma cicatriz nos braços. O vento que sopra para o leste leva consigo farelos do que não existe, leva a dimensão do que virá, leva Douglas à pequena cidade. Esta que os seres humanos denominam de lugar de civilização fica a uma pouca distância das casas.
Um papel na mão e palavras na boca. Com esta munição, atira no vendedor da pequena loja de construção. Lá com a ajuda da comunicação, transmite signos. Signos que traduzem em nossas mentes aquilo que se chama renovação. A pequena casa à direita da que fica à esquerda será reformada.
Momento de ir ao encontro de seus. Nada é de ninguém, e o fato de existir já induz ao fato de não pertencermos ao futuro. Estes seus, são conhecidos de quando era adolescente e vinte e cinco é o tempo em anos que seus olhos não se cruzam. Anos, apenas marcações inventadas por homens afim de marcarem algo. Este algo é o tempo.
Bate a pequena porta. Um homem desperta do cinismo do dia-a-dia. Surpreso, seu rosto fica. A porta fecha-se. O homem volta a seus afazeres. O homem não desejava ter visto. A campanhia toca. O homem abre novamente. Puxa o cara. O cara=Douglas. Joga o cara no gramado.Pressiona o pescoço do cara. Pede que o cara saia, que vá embora. O cara abraça o homem.

Dentre quatro humanos que se encontravam na rua. Quatro humanos com seus problemas familiares, seus sonhos, amores e vontade de liberdade = adolescentes.
Quatro: o homem, o cara (Douglas), a mulher do homem e o que morreu.
Quatro mentes que gostariam apenas sentir felicidade.
Entre os quatro, contavam seus absurdos, seus surtos, suas drogas, seus agostos.
Encontraram uma casa perdida e inabitável. A CASA MODELO. Nominaram-na simplesmente assim.

Dicionário dos SYG*:

A CASA MODELO: reduto dos desejos, ambiente onde o SYG se encontravam, conversavam, viviam suas festas.
*Submarine Yellow Group.

Corriam pela casa, em meio psicodélico, ao som de Mona ( The Rolling Stones).
Corriam. Riam. Pulavam. Sentiam longe dos olhares de seus pais. De vendas. De corpo. De sopro. De luzes. De felicidade. A liberdade era um tanto, que este tanto não poderia caber num poço sem fim.
Cada qual tinha seu quarto nesta casa, tinham sua sala. Esta casa que foi encontrada velha. Que foi encontrada habitada por aranhas. Agora jazia decorada a maneira destes garotos. De seus sonhos. A sala era posta em Lp’s, escutavam vitrola o dia todo. Rolling Stones, The Beatles, The Doors, Janis Joplin. Fotos de polaróides. Novelos desgarrados.

O homem= Vitor. Seu quarto tinha cartazes de filmes: 2001, Jornada nas Estrelas, HQ’s jogadas ao lados. Gostava de séries de TV, desenhar e ler. Jorrado de livros e figuras feitas por suas mãos, misturado com uma bola de futebol americano, Lp’s e VHS.

O homem que morreu= Marcos. Mulheres em todas as paredes, fotos de atrizes e um quadro negro. Neste, resolvia suas equações matemáticas, se afogava em números, em saberes da Natureza. Livros de “Como funciona...” em quantidade enorme estava em seu ambiente. Sua paixão: aviões. Seu sonho: ser piloto. Sabia os modelos e colecionava um catálogo de figuras de caças.

O cara= Douglas.

A mulher do homem= Débora.

O homem que morreu foi o pretexto para o encontro dos três que restaram. Débora e Vitor estão divorciados. E o cara vem reerguer A CASA MODELO. Casa queimada há anos, por suas mãos. Ciúmes de Débora ter escolhido Vitor. A cicatriz prova seu passado e não lhe deixa esquecer que o fogo também marcou Débora em suas costas. Douglas regressou para dar vazão ao sentimento de existência que inunda seus pensamentos. Com quarenta e após a morte de Marcos, somado com o fato de viver, trouxe-lê a carência de rever seus entes e se refugiar na CASA MODELO.
Ele veio para que eles vivessem de novo. Ele veio para que a casa seja refeita. Ele veio para eles correrem e sorrirem. Ele veio para trazer vida, e vida em abundância.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Hate the DJ

“O vento que entra pela janela corta as cortinas, fazendo-as se movimentarem num ritmo desconexo (num ritmo browniano).”


Assinado Jean Carlos Mansi, assinado solidão, assinado caos, assinado rotina, assinado cansaço. Mais um jantar com belíssimas pessoas, que se reúnem para simbolicamente dizerem que seus trajes sociais dentro da empresa continuam num corte acentuado, assinado por George Armani.

Um champanhe, uma conversa, mais uma obra concluída, outra obra de um grande Emílio de Morais. Enquanto todos riem, eu rio também, mas mecanicamente, para não perder a deixa, para nãos ser insensato, pra ser mais um. O sorriso que meu pai deu a vinte quatro anos atrás, quando o informei que cursaria Engenharia Civil, o sorriso que recebi de Luiza quando dei o primeiro beijo em sua boca e o meu sorriso quando Sófia nasceu à doze anos. A expressão facial pode ser uma maquiagem do que está dentro. Uso várias todos os dias, um blefe, um pó ali, disfarçando a angústia que alimento nos últimos meses.

Ruas com luzes de carros, que me levam até minha casa, dirigindo-me ao lugar onde me sinto um gesso, onde me sinto um pó no mar. Passo por prostitutas, por bares, por valetas, por angústia de saber que minhas células se oxidam. As linhas iniciam sua marcação em meu rosto, transtornos em meus tecidos corporais já se tornam irremediáveis, provocados pela minha exposição ao Sol, pelos alimentos que ingeri, pelo ar que respirei. Me amedronta a doença da velhice, câncer de estômago, câncer de próstata, câncer de pele, toda a gordura ingerida nesta pequena vida e que ficou em minhas artérias.

Teria que ter passado mais protetor para evitar um futuro melanoma, teria eu não casado, teria eu não nascido, teria me matado. Nos fins de semana fico a merce da televisão, pouco tempo tive para cultivar amizades, minha vida social se resume as festas de fim de ano na empresa. Minha vida familiar não existe, apenas sustenho minha casa com o dinheiro que ganho, não dou carinho a minha mulher e a minha filha. Ter um salário ou uma ocupação melhor dentro da empresa me preocupavam mais que as notas de minha filha.

Não transo há tempos. Minha conjugue não me deseja. Penso em pagar enquanto passo por estas prostitutas. Estou me acabando para que alguém se interesse sexualmente por mim. A morte de Alberto fez me pensar na minha existência. Pensar que construí uma sólida carreira, uma carreira que meu pai almejava. Construí uma casa, um carro na garagem, um filho e uma esposa. Elementos socialmente bem vistos, elementos perfeitos. Estou preso a tudo isso, sei das grades, mas não sei da chave.



poema

Destes contos passados,
com uniões de palavras,
teço meros cânticos.
Faço, da dor, poemas.

A mortalidade bateu à porta.
Levou-te de carona.
A infinidade achou o fim.
A saídas abriram-se para mim.

Recorto imagens parecidas a sua face.
Sinto teu perfume pelos ares.
Deito em teus lençóis.
De teu cotidiano, faço minha vida.

Há medo de estar só.
Os sonhos foram com o vento,
como a poeira de tua pele.

oDe A bElEzA

Indo a favor da correnteza,
idolatra-se valentemente o belo.
Com punhos de delicadeza,
faz-se a feiúra em farelo.

Deus, graças dá-se ao consumo
e aos padrões imaculados,
pelos esfiapados cabelos sem rumo
e pelos dentes amarelados.

Mulher enfeitiça na foto.
O corpo sem curva.
A grande mono sobrancelha.
O cheiro de suor .

Ao tom do embutido por televisores,
constrói-se o narcisismo.
Pela pele estriada dos seres,
edifica-se o capitalismo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Life in Technicolour

Dançando no espaço, em meio a este vácuo,
trajeto ao lado escuro da Lua
E este cara dentro de mim, faz-me ver o que
não
se espera.
Apreciar
bocas fechadas, aplaudir conversas calmas.

O desejável é não envelhecer, é o mérito de perder o imperdível.
Minha mente toma conta de meus gestos, o astronauta vai moldando-se ao meu corpo.
No meu
imenso pequeno universo sideral,
imerso meus desejos e minha loucura.

tEmPo

De um pequeno buraco no canto desta imensa sala,
faço um esconderijo, onde guardo meu segredo.
Este buraco, esta sala, este esconderijo, todos,
entre meios desta casa, feita de madeira , enrolada nos fios de cabelo desta senhora.
De uma mulher que espera o que vem, que espera a morte.

Nas casas, nas ruas, nos encontros, nas conversas,
em ambientes fechados ou em lugares com vista para o mar.
Perguntas tais: com qual tal eu vou, quanto custa.
"A tal é feita de um cetim nuna costura superior a sua".
Vejo sem pudor, vejo sem desejo, apenas vejo o natural.
Onde o casual não é se preocupar com o monte de algodão.

Mona

Como se pudesse me proteger...e quando algo acontecer,
quando algo ocorrer, eu ti ligasse e pudesse ti abraçar.
Como se me apoiasse em ti...e pudesse continuar a andar
quando o mundo começasse a girar e o tempo passasse.
Como se eu tivesse coragem para remediar preconceitos.
Quando se morre não se leva lembranças, não se leva matéria.
Como se quando eu estiver vivo, apenas queria tentar ir em frente,
quando eu estiver ao teu lado isso será fácil.



P.S. Não sei explicar como ocorre. O que tenho consciência é que lembro-me de ti e evitar este acontecimento eu não consigo.

Fenda

O começo de se pensar em não ser infinito ressoa.
Os alicerces deste caminho começam a se quebrar.
Tenho medo do não mais sonhar, do não mais respirar.
Receio não ouvir as vozes de entes queridos.
As lembranças e meu corpo se tornarão poeira.
E eu desaparecerei e a dor de existir se misturará,
feito pólen de flores, no ar.
Levada pelo vento, pelo tempo.

Amanhã

Número seis. Aperta o número seis quando entra no elevador. Correndo vem a vizinha, entra, aperta o botão cinco. O veículo começa a se locomover. Nenhuma palavra é ouvida ou pronunciada por nenhum dos dois presentes.
Ela sai, ele abaixa a cabeça. Resmunga.
Seis. A porta do elevador se abre. Vagarosamente ele, da mesma maneira casual, caminha até seu apartamento 603. Este fica no fim do corredor, enquanto passa pelas portas dos outros, imagina o que ocorre em cada um desses lares.
603. Abre a porta. Logo se vê em sua sala de estar. E ela está lá.
Diz: Oi e dá-lhe um beijo.
-Como foi o seu dia?- pergunta.
-Ha, ha! Que divertido.
-Tive alguns problemas na empresa. O Juiz não aprovou o penhor das Casas Silvas. Já volto.
Tira o calçado. O chulé vem ao nariz. Tira a meia e estica os dedos. Volta do quarto. Pega sua maleta. Ponha ela sobre a escrivaninha. Vai à cozinha. Pega uma lata de cerveja. Abre ela. Toma um gole. Volta à sala e deita no sofá. Volta a conversar com ela.
-Eu sei. Temos outros negócios. E depois podemos rever este caso.
- Sim, podemos. Vamos pedir de calabresa
-Estava esquecendo a sessão de cinema, começa às dez horas. Não podemos perder.
-Já estou indo, então.
Sai do sofá. Deixa a lata de cerveja. Caminha até a escrivaninha. Abre a maleta. Pega um frasco. Abre. Pega duas cápsulas. Ingeri elas.
Adentra ao corredor. Antes vira para traz. Sorri quando a vê e diz:
-Também estava com saudades.
Vai ao banheiro. Toma sua ducha. Enquando se banha, chora. Tenta esquecer que mora só e que ela é apenas um papel. Pertecente a um fodder de comercial de cerveja.

"Gostaria que fosse diferente, gostaria de ouvir sua voz e que este texto fosse escrito desta maneira":

Diz:Oi e dá-lhe um beijo.
-Oi, lindo. Saudades.
-Como foi o seu dia? _Pergunta.
-Foi corrido na loja, fim de ano. É cansativo. Ai, cheguei e liguei para a mamãe.
-Ha, ha! Que divertido.
-Seu bôbo. Sempre sarcástico. E o seu, como foi seu dia?
-Tive alguns problemas na empresa. O Juiz não aprovou o penhor das Casas Silvas. Já volto.
Tira o calçado. O chulé vem ao nariz. Tira a meia e estica os dedos. Volta do quarto. Pega sua maleta. Ponha ela sobre a escrivaninha. Vai à cozinha. Pega uma lata de cerveja. Abre ela. Toma um gole. Volta à sala e deita no sofá. Volta a conversar com ela.
-Mas olha ainda tem o caso do Reginaldo, além do mais vocês podem pedir um penhor maior.
-Eu sei. Temos outros negócios. E depois podemos rever este caso.
-Estava pensando em comermos pizza, estou com preguiça de fazer alguma coisa. Podemos pedir?
- Sim, podemos. Vamos pedir de calabresa.
-Estava esquecendo a sessão de cinema, começa às dez horas. Não podemos perder.

-Então vai tomar banho. Vou ligar para a pizzaria. Não esquece do remédio.
-Já estou indo, então.
Sai do sofá. Deixa a lata de cerveja. Caminha até a escrivaninha. Abre a maleta. Pega um frasco. Abre. Pega duas cápsulas. Ingeri elas.
Adentra ao corredor. Antes vira para traz. Sorri quando a vê e diz:
-Também estava com saudades.
Vai ao banheiro. Toma sua ducha. Enquando se banha, ri.

Made in China

Vosso que foi construído,
adentra ao meu .
Faz deste mundo separado,
quebrar as fronteiras .

Confeccionado por mãos infantis,
teu coração da vasta China veio.
O medo assola meus sentidos,
há desconfiança que o órgão logo pare de funcionar.

Podemos ir contra a correnteza,
se isolar desta opressão.
Tomarmos a cabo nosso próprio Estado,
onde o capital será nossos beijos.

Sabemos que não podemos destruir o muro de Berlin.
Se te quero para todo o sempre
terei que te trazer ao Primeiro Mundo.
Para que peças melhores se engatem em teu peito.