quarta-feira, 14 de julho de 2010

Norma Jean

O cheiro de pato assado se condensava ao de Chanel Nº5, no espelho o reflexo de uma mulher de olhos cor de amêndoas. Simétrico ao lado pintado maquiava o lado branco de seu rosto, em seu corpo um prât-à-porter Prada. Posteriormente seguiu até a vitrola e pôs no prato, La vie en Rose de Edith Piaf, enquanto foi de encontro ao armário de cristais, viu-se na vidraça da janela, por este momento ficou parada, intacta perante a sua própria imagem. Lágrimas saíram de seus olhos e sua respiração se tornou ofegante. Sorriu, um sorriso amarelo e cumpriu seu objetivo, pegou uma caixinha de couro, cor marrom, onde na sua frontal se fazia visível a palavra GUCCI. Colocou este objeto sobre a mesinha de centro, a campainha soou, presumiu que fossem os convidados, correu até seu quarto e ornamentou sua orelha com um brinco de coloração prata.
Abriu a porta e por esta passou um homem, com terno Armani e com rosto quarenta anos, trazia em suas mãos um vinho Syrah. Luiza abraçou-o fortemente.

O que representa um abraço? Qual é a capacidade múltipla do abraço? O que um abraço é capaz de proporcionar?

Luiza o beijou.

Nada mais do que uma ação que simboliza uma determinada e maior ligação com um outro ser humano. Um beijo. Beijos são únicos e especiais. Ações são especiais.

Os dois se sentaram no sofá, enquanto Eduardo se auto-intitulava enologo, contava histórias de outros vinhos que já havia degustado. Após praticarem seus dons de somelier, a mulher veio até o homem e lhe pediu a mão. Enquanto a fonética de algumas palavras resultava em ‘Tango para Tereza’, perdiam-se em passos, mãos nas costas do outro e um movimento.
Numa travessura, Luiza apertou a nádega de Edu e saiu correndo pela sala, este a persegui. Apanhou-a e se depuseram sobre o tapete. Ela com a cabeça sobre seu peito e ele com o braço sob a dele. Por assim, ficaram neste assim assado.

Não há sentidos, por quê esta competência, se sobre estes ossos embrulhados de pele, existem órgãos que pararão um dia. Se ao menos o seu coração tivesse acelerado por causa de uma cabeça sobre ele. Ao que procura em dias de chuva, não terá a mesma correspondência daquele que anda abaixo de um Sol. O que difere nós de outros animais, é nosso psiquismo, por quê tal não usá-lo? Pensamos.

‘Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...’

E Eduardo tinha Luiza e Luiza tinha Eduardo.


(Green Eyes)

Honey you are a rock
Upon which i stand
And i come here to talk
I hope you understand

(Chorus)

The green eyes
Yeah the spotlight
Shines upon you
How could
Anybody
Deny you?

I came here with a load
And it feels so much lighter
Now i've met you
And honey you should know
That i could never go on
Without you
Green eyes

Honey you are the sea
Upon which i float
And i came here to talk
I think you should know

(Chorus)

The green eyes
You're the one that
I wanted to find
Anyone who
Tried to deny you
Must be out of their mind

'cause i came here with a load
And it feels so much lighter
Since i've met you
And honey you should know
That i could never go on
Without you

Green eyes
Green eyes ohohohoh
Ohohohoh
Ohohohoh
Ohohohoh

Honey you are a rock
Upon which i stand...

(Coldplay)

Enquanto apreciavam a gastronomia da noite, cozinhado por esta mulher, suas bocas soltavam sons que formavam esta linguagem falada. Estes sons reproduziam um diálogo sobre suas infâncias, de quando eram crianças e desta ligação entre eles. Uma ligação que se iniciou quando ainda não haviam passado pelo Édipo. Com o passar dos minutos, que se resultaram em anos, se perderam. Com o trajeto caminhado, se cruzaram novamente.
O dono deste olho verde suprime a falta de alguém que o fazia se encher, de alguém que chamava de companheiro, de alguém que chamava de Danilo, de alguém que o coração já não mais bate.Os olhos amêndoas tentam encontrar a resposta de um casamento insólido, de um marido que a abandonou. Constrói-se um monumento com alguém, que pode se perder, se quebrar. O vazio toma conta, quando se achava que este monumento teria a força de uma Pietà de Michelangelo.

Será que foram dias perdidos estes, dos quais se viveu ao lado de uma pessoa que já não pergunta “tudo bem?”. As vezes que fui mais feliz era quando estava ligado a alguém.
Não queria ter muitas linhas, apenas uma, que fosse resistente e sempre. (E de pensar que o ‘sempre, sempre acaba’, Renato Russo).

Apoiavam-se um sobre o outro para não se perderem por esta estrada, por esta vida. Hoje era um dia especial, um dia de festa. Ninguém mais irá aparecer.
Foram felizes por esta noite, fizeram sua felicidade.

Luiza, após este que conta o tempo soar na hora doze, como tratado, pegou a caixinha de couro e a abriu. Tirou desta, o antídoto.

Cogitaram a idéia de não finalizar o plano, se sustentariam um no outro. Dessa maneira, não utilizaram a arma para se matarem.

Mereciam toda esta ocasião, seria a última noite.
Se olharam e junto com as lágrimas que se moviam, moveram-se também os braços que se encontraram nas costas do outro e moveu-se o gatilho, duas vezes.

Os dois caíram sobre o tapete. Os dois queriam felicidade. Os dois encontraram o narcisismo.

3 comentários:

  1. "Os dois caíram sobre o tapete. Os dois queriam felicidade. Os dois encontraram o narcisismo."

    de uma escrita e detalhes.. Ímpares, parabéns Eder!

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  2. Aliança que aprisiona.
    Emoção delirante!
    Corações tal um só.
    Na morte a liberdade...

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