sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Hate the DJ

“O vento que entra pela janela corta as cortinas, fazendo-as se movimentarem num ritmo desconexo (num ritmo browniano).”


Assinado Jean Carlos Mansi, assinado solidão, assinado caos, assinado rotina, assinado cansaço. Mais um jantar com belíssimas pessoas, que se reúnem para simbolicamente dizerem que seus trajes sociais dentro da empresa continuam num corte acentuado, assinado por George Armani.

Um champanhe, uma conversa, mais uma obra concluída, outra obra de um grande Emílio de Morais. Enquanto todos riem, eu rio também, mas mecanicamente, para não perder a deixa, para nãos ser insensato, pra ser mais um. O sorriso que meu pai deu a vinte quatro anos atrás, quando o informei que cursaria Engenharia Civil, o sorriso que recebi de Luiza quando dei o primeiro beijo em sua boca e o meu sorriso quando Sófia nasceu à doze anos. A expressão facial pode ser uma maquiagem do que está dentro. Uso várias todos os dias, um blefe, um pó ali, disfarçando a angústia que alimento nos últimos meses.

Ruas com luzes de carros, que me levam até minha casa, dirigindo-me ao lugar onde me sinto um gesso, onde me sinto um pó no mar. Passo por prostitutas, por bares, por valetas, por angústia de saber que minhas células se oxidam. As linhas iniciam sua marcação em meu rosto, transtornos em meus tecidos corporais já se tornam irremediáveis, provocados pela minha exposição ao Sol, pelos alimentos que ingeri, pelo ar que respirei. Me amedronta a doença da velhice, câncer de estômago, câncer de próstata, câncer de pele, toda a gordura ingerida nesta pequena vida e que ficou em minhas artérias.

Teria que ter passado mais protetor para evitar um futuro melanoma, teria eu não casado, teria eu não nascido, teria me matado. Nos fins de semana fico a merce da televisão, pouco tempo tive para cultivar amizades, minha vida social se resume as festas de fim de ano na empresa. Minha vida familiar não existe, apenas sustenho minha casa com o dinheiro que ganho, não dou carinho a minha mulher e a minha filha. Ter um salário ou uma ocupação melhor dentro da empresa me preocupavam mais que as notas de minha filha.

Não transo há tempos. Minha conjugue não me deseja. Penso em pagar enquanto passo por estas prostitutas. Estou me acabando para que alguém se interesse sexualmente por mim. A morte de Alberto fez me pensar na minha existência. Pensar que construí uma sólida carreira, uma carreira que meu pai almejava. Construí uma casa, um carro na garagem, um filho e uma esposa. Elementos socialmente bem vistos, elementos perfeitos. Estou preso a tudo isso, sei das grades, mas não sei da chave.



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