quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Carta ao Senhor Reginaldo

Boa noite, senhor meu pai. Como vai? Hoje, passanado pelas ruas, aqui do Rio, vi dentro de uma casa uma pequena vitrola. Esta paisagem me fez lembrar do senhor, de quando escutava os LP's do Tonico e Tinoco sentado na poltrona. Depois de tantos anos resolvi escrever, tantos anos sem te ver, desde quando saí de casa, após nossa discussão. O senhor nunca nos deu atenção, a mim e mamãe, pernoitava nos botecos com biscates. Não me aceitou, mas eu me aceitei.
Trabalhei num restaurante, durante quatro primaveras, com uma parte do que juntei de meu salário e com a outra que roubei do caixa, comprei meus seios. Enquanto mantive um relacionamento com o irmão do dono do restaurante, tive uma vida regada a luxo. Isso acabou quando sua mulher descobriu nosso caso, mas de uma coisa recordarei:ele me presenteou com um tratamento para que meus pelos não mais nascessem. Tornei-me Rebecca.
Agora tenho uma profissão, sou transformista, drak-queen e me apresento como Cindy Lauper. Guardo alguns trocados para fazer a cirurgia de mudança de sexo e assim me tornar uma verdadeira mulher. Mas isso é externo, por dentro sempre fui e é isso que o senhor tem que entender. O meu corpo, minha fisiologia, o meu contorno não determinam meu psiquismo. Sou traveco, antes não fosse, seria Rebecca do mesmo modo. E o que sei, é que busco a felicidade.

Rio de Janeiro, 7 de junho de 2009.

De: Antes Leonardo, agora Rebecca.

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